Kaili Blues (路边野餐) é um filme realizado por Bi Gan (毕赣) com Yongzhong Chen e Yue Guo nos principais papéis.
Relativamente desconhecido até ao lançamento deste filme, Kaili Blues transformou Bi Gan num dos realizadores a ter em atenção no actual panorama do cinema chinês. A sua estreia cinematográfica apresenta-nos uma viagem surrealista, em que o autor coloca o seu protagonista em confronto com o passado, presente e futuro de uma forma bastante particular e única.
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Chen Sheng (Yongzhong Chen) é um médico local na cidade de Kaili. Sabendo-se pouco sobre o protagonista no início do filme, a primeira parte leva-nos a acompanhar o quotidiano de Chen, as voltas que ele dá pela pequena localidade onde vive e a relação que tem com a sua colega de trabalho, o irmão e o sobrinho. Incomodado com a negligência de que o seu sobrinho é alvo por parte do pai, esta animosidade com o irmão chega ao ponto mais alto quando descobre que o miúdo foi deixado a cargo de outro homem na cidade de Zhenyuan, a cidade-berço do protagonista do filme. A partir deste momento, e com o objectivo de trazer o miúdo de volta para a sua beira, acompanhamos a viagem de Chen até à sua cidade natal, que se revela uma experiência única para o espectador.
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Kaili Blues não é um filme que conte com muito diálogo, assumindo o filme a personalidade do seu protagonista (pensador e melancólico), focando-se mais em momentos de silêncio e de observação do seu mundo e de tudo o que o rodeia. Se na primeira parte do filme é algo difícil para o espectador compreender as motivações e o estranho quotidiano do seu protagonista, somos depois transportados para uma viagem fantástica em que vamos descobrindo mais sobre todos os envolvidos através de uma experiência que seria mais facilmente associada a um sonho ou a uma experiência transcendental do que propriamente à narrativa de um filme “comum”.
Na segunda metade do filme somos surpreendidos com um plano-sequência de quase quarenta minutos focado numa das paragens que o protagonista do filme faz ao longo da viagem. A partir deste momento o filme muda, e é difícil discernir o que é a realidade, o tempo em que estamos e se os personagens são reais ou apenas fragmentos da memória do protagonista. É apresentado como um verdadeiro sonho, confuso, mas sempre com uma qualquer ligação à realidade que torna a visualização deste filme uma experiência completamente hipnótica.
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Kaili Blues é uma experiência visual magnífica. É um filme onde não é fácil acompanhar a narrativa, mas em que esse é o objectivo. É como estar num sonho febril do protagonista, onde por vezes saímos do seu corpo e nos focamos noutros pormenores que escapam à sua visão, onde ouvimos sons e poemas vindos do desconhecido, mas em que nada nos parece demasiado estranho, onde é tudo demasiado familiar, como se estivéssemos a tentar juntar os fragmentos da nossa própria memória.
Kaili Blues é uma estreia em grande de Bi Gan e um dos melhores filmes chineses da última década. É uma experiência diferente, que pode demorar um pouco até prender o espectador, mas que quando o faz é difícil desviar o olhar. É surrealista, hipnótico e um filme para reflectir nos dias após a sua visualização. Será que já acordei?