A Billion Voices é um livro escrito por David Moser, publicado em 2016, que se foca na origem e evolução do Pǔtōnghuà (Mandarim moderno), a actual língua oficial da República Popular da China.

A aprendizagem da língua chinesa não é fácil. Embora as regras gramaticais não sejam muito complexas, a semelhança entre palavras, os diferentes tons e a escrita complexa tornam a aprendizagem da língua um desafio para qualquer pessoa, mesmo para quem a tem como língua materna.

No entanto, esta versão do “chinês” que se aprende hoje em dia nas escolas na China e que se tem espalhado por todo o mundo é uma língua relativamente recente. Num país enorme como a China, o número de dialectos existentes atinge as centenas. Os dialectos do “chinês” estão divididos por sete subgrupos diferentes: Mandarim, Wu, Gan, Xiang, Min, Hakka e Yue. Até um passado recente, os chineses tinham bastante dificuldade em comunicar entre si, visto que a língua variava (e continua a variar) bastante entre o norte, sul, este e oeste. Juntando a tudo isto um nível de analfabetismo elevado, ao qual um sistema de escrita bastante complexo não ajudava à diminuição desses números, surgiu a necessidade de se criar uma língua nacional que unificasse o povo chinês.

Aumentar

David Moser
David Moser, o autor do livro. (A Billion Voices)

Fazendo breves referências à origem da língua chinesa, A Billion Voices foca-se mais na evolução da língua chinesa após a implantação da República da China em 1912. Ao longo deste pequeno livro é-nos dada uma ideia bastante completa de como se processou o aparecimento do dialecto comum que ainda hoje está em fase de crescimento na República Popular da China.

As primeiras grandes convenções para delinear o projecto desta nova língua, as decisões a serem tomadas quanto à simplificação do complexo sistema de escrita chinês e as estratégias para tentar expandir esta nova língua aos quatro cantos da China são alguns dos temas abordados ao longo do livro. Desde os intelectuais do May Fourth Movement (五四運動), passando por líderes nacionalistas como Chiang Kai-shek e líderes comunistas como Mao Zedong e Deng Xiaoping, este livro faz referência às ideias que estes tinham para expandir uma língua que não dominavam.

Mas o grande destaque do livro vais mesmo para a fascinante língua chinesa em si. Desde a sua origem até à evolução mais recente da língua, onde as redes sociais chinesas têm tido um papel vital para a criação de novos significados dentro da escrita chinesa, o “chinês” é o protagonista desta obra. A Billion Voices foca-se na história do desenvolvimento desta nova língua, uma missão que se revelou quase impossível em tempos e que ainda não atingiu o seu objectivo máximo.

Aumentar

A Billion Voices
A aprendizagem do mandarim é difícil até para os falantes nativos da língua. (A Billion Voices)

Yu Yibing

Estima-se que hoje em dia cerca de 400 milhões de chineses ainda não falem a língua oficial do seu país (algo que eu já tive a oportunidade de experienciar a nível pessoal), apontado as estimativas para 2050 como o ano em que a China ficará finalmente unificada a nível linguístico.

A evolução do Pǔtōnghuà e a sua relação com os dialectos locais, que tão importantes são para as culturas locais, é outro dos desafios que o livro aborda. Faz-se também referência aos anti-corpos que surgiram em muitas das regiões da China quando uma língua que a maior parte da população chinesa desconhecia completamente começou a fazer parte do seu dia a dia.

A Billion Voices apesar de ser um livro pequeno, é bastante elucidativo sobre a história contemporânea da língua chinesa. É obrigatório para qualquer estudante de língua chinesa, dando uma ideia bastante completa sobre o contexto político, social e cultural desta língua que tem cada vez mais estudantes por todo o mundo.

Fonte das imagens: Google Images