“In Manchuria: A Village Called Wasteland And The Transformation Of Rural China” é um livro escrito por Michael Meyer, publicado em 2015, onde o autor fala sobre a sua experiência de vida na zona normalmente conhecida no ocidente como Manchuria.
O livro debruça-se sobre a história e mudanças sócio-económicas desta zona ao longo dos tempos, focando-se também na sua experiência de vida numa pequena aldeia chamada “Wasteland”.
Michael Meyer mudou-se para a China nos anos noventa para ser professor de inglês ao serviço dos Peace Corps, tendo sido colocado a dar aulas na cidade de Chengdu. Uns anos mais tarde, Michael mudou-se para Beijing para ser professor numa escola internacional, onde acabou por conhecer a sua esposa, uma chinesa cujo nome “estrangeiro” é Frances. Em Beijing, teve a oportunidade de escrever o seu primeiro livro sobre a China, “The Last Days of Old Beijing”. Quando a sua esposa recebeu uma oferta de emprego para trabalhar em Nova Iorque, ambos voltaram para os EUA, mas o desejo de descobrir mais sobre a China persistiu na mente de Michael.
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Michael Meyer assume no livro que sempre teve o desejo de morar algum tempo na parte mais rural da China, aquela que normalmente os livros escritos por autores estrangeiros não se debruçam tanto.
Após o falecimento do pai da sua esposa, deixaram Nova Iorque para passar algum tempo na terra natal de Frances, Huangdi (荒地) ou Wasteland. Huangdi é uma pequena aldeia perto da cidade de Jilin na província de Dongbei (que em tempos foi conhecida no ocidente como Manchuria). Algum tempo após terem chegado a Huangdi, Frances decidiu aceitar um emprego numa firma de advogados em Hong Kong, ficando Michael a viver sozinho nesta aldeia no frio norte da China, baseando-se a maior parte do livro nesta sua experiência singular.
Ao longo das quase quatrocentas páginas do livro é-nos apresentada a província de Dongbei e a sua longa história. O autor faz uma descrição aprofundada das várias grandes cidades desta província (Jilin, Changchun, Harbin, Dalian, etc…), indo sempre contrapondo a situação actual com a evolução histórica destes territórios, desde os tempos ancestrais até às invasões estrangeiras, sendo dada especial atenção para a invasão japonesa durante a segunda guerra mundial e à história do Império Manchu. Há também espaço para o retrato de alguns personagens mais peculiares que habitam nesta província, destacando-se um senhor que afirma ter sido sequestrado por extraterrestres.
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A “Manchuria” serve quase de personagem secundário neste livro, sendo o grande destaque do mesmo a aldeia de Huangdi, onde Michael habitou durante um ano. Michael, além de continuar a sua pesquisa sobre a província de Dongbei ao longo da sua estadia, arranjou também trabalho como professor voluntário de inglês na escola local, o que lhe permitiu alargar a sua rede social. Sendo um meio muito pequeno onde toda a gente se conhece, é-nos dada bastante informação sobre os habitantes, especialmente os que eram mais próximos do autor.
Huangdi é uma aldeia de agricultores, reconhecida pelo seu precioso arroz que é considerado um dos melhores da China. Tendo a produção do mesmo sido adquirida por uma empresa chamada Eastern Fortune, o livro explora as reacções dos locais às mudanças na sua vida quotidiana e a opinião que têm sobre o rápido crescimento económico da China, que já se começa a alastrar até para os locais mais remotos.
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Os agricultores locais são outro dos destaques do livro, falando na primeira pessoa das técnicas que usam e da sua vida profissional ao longo dos tempos. Esta é uma das partes mais interessantes do livro, pois muito da literatura disponível sobre a China contemporânea fala mais sobre aqueles que deixaram a agricultura do que propriamente sobre as pessoas que ficaram nas suas terras a continuar o trabalho que conheceram toda a vida.
“In Manchuria” tornou-se um dos livros que mais gostei de ler sobre a China. É quase uma carta de amor às raízes da terra da esposa de Michael. Mesmo quando escreve sobre os assuntos teoricamente mais enfadonhos, o autor arranja maneira de os tornar estimulantes para o leitor. É um livro que recomendo a todo o tipo de leitores, não só devido ao excelente retrato pintado pelo autor da vida rural na China, mas também por toda a informação histórica que o mesmo amealhou sobre esta zona tão importante na história da China e mesmo do mundo.
Fonte das imagens: Google Images