24 City (二十四城记), nome com origem num antigo poema sobre a cidade de Chengdu, é um filme de Jia Zhangke (贾樟柯), que conta com a participação de Joan Chen (陈冲), Lu Liping (吕丽萍), Chen Jianbin (陳建斌) e Zhao Tao (赵涛).

O filme é uma espécie de documentário com elementos fictícios (alguns dos testemunhos sobre a “cidade” na qual se baseia a história do filme são interpretados por actores) sobre uma antiga fábrica situada na cidade de Chengdu, na província de Sichuan na China.

Chengdu, 2007, perante um auditório cheio de trabalhadores, um diretor do grupo empresarial Chengfa anuncia um novo capítulo na vida da empresa onde todos trabalham. A Fábrica 420, que esteve no activo durante os últimos cinquenta anos, mudará de instalações para dar lugar a um complexo de apartamentos de luxo. Esta decisão foi tomada devido às recentes dificuldades económicas que o grupo enfrenta e também graças às novas regulações ambientais que não permitem que uma fábrica de materiais metalúrgicos se encontre no meio de um centro urbano.

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A fábrica 24 City. (24 City)

É a partir das imagens do início do último dia de trabalho (capturadas de maneira sublime por Zhangke) que este filme inicia. 24 City é a história de vários cidadãos de Chengdu, nascidos em diferentes épocas, que nos contam histórias sobre a sua vida sempre com a fábrica e a cidade de Chengdu como pano de fundo.

A fábrica neste filme serve-nos como um símbolo das mudanças constantes na China nos últimos sessenta anos. Desde os tempos da guerra da Coreia, passando pela revolução cultural e pela guerra fria, até à entrada da China numa economia de mercado, esta fábrica e os seus trabalhadores foram testemunhas de um país em constante mudança, e nela, tal como na vida dos seus trabalhadores, as mudanças foram constantes.

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Joan Chen, uma das actrizes do filme. (24 City)

Este complexo industrial foi durante a sua existência uma “mini-cidade” dentro da cidade de Chengdu. Tendo dormitórios, escolas e até um hospital dentro do complexo, foi durante anos um local de passagem de milhares de trabalhadores, dando trabalho a várias gerações de habitantes de Chengdu.

Construída no pós-segunda guerra mundial como uma fábrica secreta de armamento militar (que oferecia até um “subsídio de secretismo” tal como é referido durante o filme), foi uma das grandes forças industriais da cidade de Chengdu. A fábrica começou a perder o seu fulgor durante os últimos anos da guerra fria, quando teve de abrandar a produção de material militar para passar à produção de outro tipo de material electrónico, entrando então nessa altura numa fase decadente que viria a culminar no seu encerramento.

Os “personagens” do filme estão todos de certa maneira ligados à fábrica 420, seja como ex-trabalhadores ou como pessoas relacionadas com alguém que trabalhou nesta mesma fábrica (cinco dos testemunhos são de antigos trabalhadores da fábrica, os restantes são de actores, baseados em muitas das histórias que Jia Zhang Ke ouviu ao longo do seu processo de investigação para o documentário).

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Zhao Tao é presença assídua nos filmes de Jia Zhangke. (24 City)

As histórias que partilham estão todas relacionadas com a evolução política e económica da China durante os últimos 50 anos, desde a relação entre um mestre e o seu aprendiz, passando pelos sacrifícios que muitos trabalhadores fizeram ao longo da sua vida para garantir o sucesso da fábrica e a garantia de terem um emprego, até à análise mais detalhada da vida de alguns trabalhadores, focando-se na sua vida privada e o que acham que o futuro lhes reserva.

Avançando entre cenas com poemas que vão refletindo o estado de espírito dos personagens e da cidade que desfila à nossa frente, 24 City é um filme sobre uma cidade e as suas pessoas, poderia facilmente ter sido filmado noutra cidade ou noutro país, sendo uma obra melancólica que não desiste de procurar uma luz de esperança em todos os envolvidos na mesma.

Trailer do filme '24 City'.

Fonte das imagens: Google Images