Pedicab Driver (群龍戲鳳 ) é um filme de comédia e artes marciais de Hong Kong, lançado em 1989, protagonizado e realizado por Sammo Hung.
Os filmes de Sammo Hung chegaram-me através das suas colaborações com Jackie Chan, em clássicos como Lucky Stars ou Project A. Com uma carreira impressionante no cinema de artes marciais, Sammo é muitas vezes lembrado pelas suas proezas físicas e pelo seu talento para equilibrar ação e comédia. No entanto, Pedicab Driver destaca-se como uma das pérolas mais subvalorizadas da sua filmografia — um filme que desafia expectativas e mistura géneros com uma liberdade surpreendente.

Passado na Macau dos anos 30, o filme segue um grupo de condutores de riquexó que tentam sobreviver numa cidade ainda longe do seu futuro de luxo e casinos. Sammo interpreta Lo Tung, um homem duro por fora mas de coração generoso, que se apaixona por uma funcionária de uma padaria. O seu melhor amigo, Malted Candy (Mok Siu-Chung), envolve-se com uma mulher tímida, cuja situação só mais tarde se revela: está presa num bordel, onde se prostitui para pagar dívidas.
É aqui que o filme tem uma reviravolta inesperada. Aquilo que começa como uma comédia leve com kung fu transforma-se num drama social pesado, com personagens a refletirem sobre o seu lugar no mundo — enquanto trabalhadores pobres, enquanto homens impotentes perante a injustiça, enquanto pessoas comuns confrontadas com a dureza da vida. Há momentos em que o tom muda tão abruptamente que parece estarmos a ver outro filme. Mas, de certa forma, isso faz parte do seu encanto.

Pedicab Driver aborda temas como a exploração, a desigualdade e o amor em tempos difíceis — tudo isto entre piadas físicas, lutas coreografadas e pequenas tragédias do quotidiano. E é nas cenas de luta que o filme realmente brilha. Como seria de esperar de Sammo Hung, a ação é rápida, criativa e cheia de impacto. Um dos destaques é o duelo com o lendário realizador Lau Kar-leung, uma sequência que não é apenas uma exibição de técnica, mas também de respeito mútuo entre dois mestres.
É verdade que há cenas que parecem deslocadas e mudanças de tom difíceis de digerir. Mas essa irregularidade dá-lhe uma certa autenticidade. Pedicab Driver não tem o estilo refinado dos filmes de Jackie Chan, nem o brilho estilizado dos policiais de Hong Kong dos anos 90, mas tem uma identidade própria que o destaca entre outros filmes da mesma época.
É um filme sobre amor, perda, dignidade. Sobre gente que tem pouco, mas luta ferozmente para proteger o que tem.
