The Vision é uma banda desenhada da Marvel publicada em 2016 da autoria de Tom King com desenho de Gabriel Hernández Walta e Michael Walsh.

O Vision nunca foi dos meus personagens da Marvel favoritos, embora reconheça a importância que tem no mesmo, nunca me chamou muito à atenção.

Ao ler uma dessas listas que fazem com que a internet exista, deparei-me com a recomendação deste título, que acabou por se revelar uma agradável surpresa.

Nesta história, a relação entre o Vision e a Scarlet Witch já é coisa do passado. O Vision agora é o conselheiro dos Avengers na Casa Branca, tendo-se mudando para Washington e vivendo nos subúrbios desta cidade. Continuando na sua senda de ser o mais humano possível, Vision não se mudou sozinho, tendo criado uma família que o acompanha nesta viagem.

Virgínia, a sua esposa, Viv, a sua filha e Vin, o seu filho, são os novos membros da família de Vision que o acompanham nesta saga pela “normalidade” que o mesmo almeja. Tal e qual como numa sitcom, os Visions são os novos “vizinhos estranhos” desta pequena comunidade.

Estando Vision constantemente fora em trabalho com os Avengers, a sua mulher tenta relacionar-se o melhor possível com os vizinhos, enquanto que os miúdos se vão tentando adaptar à nova vida na escola secundária local. É neste ambiente meio cómico que começa a história, sendo um pouco inesperado o twist macabro que surge no final do primeiro fascículo.

A partir deste momento, a faceta cómica deixa-se cair, tornando-se a obra mais sinistra e entrando no campo do terror suburbano. Os segredos vão-se acumulando entre os membros desta nova família, até chegar a um ponto da quase implosão da mesma.

A história da obra, escrita por Tom King, é bastante cativante e está muito bem executada. A narrativa vai progredindo lentamente, mas sem nunca se tornar enfadonha, havendo espaço para bastantes flashbacks sobre a vida de Vision, que nos dão contexto para os acontecimentos do presente nesta obra. O suspense é uma constante nesta história, com os personagens principais a serem postos numa posição pouco comum dentro das obras do género, nunca sendo muito óbvio qual será o desfecho da história.

A procura pela normalidade é outro dos grandes temas da obra. Nunca nos esquecemos que os Visions são Androids, mas as características humanas que apresentam e a maneira como vão evoluindo ao longo da história fazem parecer que estes já não são apenas máquinas.

Como costuma ser normal, o universo da obra não se cinge só à família dos Visions, havendo espaço para algumas aparições dos Vingadores e outros membros famosos da família Marvel.

Sinceramente, nunca pensei em querer que existisse uma adaptação a filme dedicada só ao Vision, mas esta obra seria perfeita e distanciaria-se do restante universo cinematográfico Marvel. É uma história sobre relações familiares e a condição humana, sempre rodeada de um ambiente sinistro que faz lembrar um filme de terror.

Aquando da leitura, há uma certa sensação de intimidade com esta família, distanciando-se dos grandes épicos de super-heróis onde estes parecem maiores que a vida. Longe de mim pensar que uma história sobre androids seria uma das obras mais humanas que já li da Marvel.